Revista de Saúde Pública, Volume: 48, Número: 3, Publicado: 2014
  • Programa de Controle da Tuberculose e satisfação dos usuários, Rio de Janeiro Public Health Practice

    Portela, Margareth Crisóstomo; Lima, Sheyla Maria Lemos; Brito, Cláudia; Ferreira, Vanja Maria Bessa; Escosteguy, Claudia Caminha; Vasconcellos, Maurício Teixeira Leite de

    Resumo em Português:

    OBJETIVO Avaliar fatores associados à satisfação de usuários do Programa de Controle de Tuberculose. MÉTODOS Estudo transversal realizado com 295 pacientes ≥ 18 anos que tiveram duas ou mais consultas no Programa de Controle da Tuberculose em cinco municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro, RJ, em 2010. Contemplando população estimada de 4.345 pacientes, o desenho da amostra incluiu 15 unidades com o programa, divididas em dois estratos: unidades da cidade do Rio de Janeiro, selecionadas com probabilidade proporcional à média de consultas mensais, e unidades dos outros quatro municípios, incluídas com certeza. Nas unidades, quatro conglomerados temporais com cinco pacientes cada foram selecionados com equiprobabilidade, totalizando 300 pacientes. Utilizou-se questionário que investigou variáveis clínicas e sociodemográficas dos usuários e aspectos dos serviços e do atendimento no programa relevantes na percepção de satisfação desses. Estatísticas descritivas e a satisfação com o programa foram obtidas e os efeitos dos fatores associados à satisfação foram estimados. RESULTADOS Predominaram pacientes do sexo masculino (57,7%), com média de 40,9 anos e baixa escolaridade. O tempo médio de tratamento foi 4,1 meses, majoritariamente do tipo autoadministrado (70,4%). Ainda, 25,8% já tinham realizado tratamento prévio de tuberculose. Houve elevado nível de satisfação, sobretudo com relação à provisão de medicamentos e respeito aos pacientes pelos profissionais de saúde. Mostraram-se mais insatisfeitos: pacientes mais jovens (≤ 30 anos), submetidos a tratamento autoadministrado e com nível superior. Sugestões de melhoria dos serviços incluíram aumento da quantidade de médicos (70,0%) e realização de exames no local do atendimento (55,1%). CONCLUSÕES A satisfação dos pacientes do Programa de Controle da Tuberculose mostrou-se, em termos gerais, elevada, mas é menor entre os mais jovens, aqueles com nível superior e aqueles submetidos ao tratamento autoadministrado. São necessárias mudanças estruturais e organizacionais no cuidado, e este estudo provê subsídios práticos para a sua melhoria.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE To evaluate factors associated with users’ satisfaction in the Tuberculosis Control Program. METHODS A cross-sectional study of 295 patients aged ≥ 18 years, with two or more outpatient visits in the Tuberculosis Control Program, in five cities in the metropolitan region of Rio de Janeiro, RJ, Southeastern Brazil, in 2010. Considering an estimated population of 4,345 patients, the sampling plan included 15 health care units participating in the program, divided into two strata: units in Rio de Janeiro City, selected with probability proportional to the monthly average number of outpatient visits, and units in the other four cities. In the units, four temporal clusters of five patients each were selected with equal probability, totaling 300 patients. A questionnaire investigating the users’ clinical and sociodemographic variables and aspects of care and service in the program relevant to user satisfaction was applied to the patients. Descriptive statistics about users and their satisfaction with the program were obtained, and the effects of factors associated with satisfaction were estimated. RESULTS Patients were predominantly males (57.7%), with a mean age of 40.9 and with low level of schooling. The mean treatment time was 4.1 months, mostly self-administered (70.4%). Additionally, 25.8% had previously been treated for tuberculosis. There was a high level of satisfaction, especially regarding medication provision, and respect to patients by the health professionals. Patients who were younger (≤ 30), those on self-administered treatment, and with graduate level, showed less satisfaction. Suggestions to improve the services include having more doctors (70.0%), and offering exams in the same place of attendance (55.1%). CONCLUSIONS Patient satisfaction with the Tuberculosis Control Program was generally high, although lower among younger patients, those with university education and those on self-administered treatment. The study indicates the need for changes to structural and organizational aspects of care, and provides practical support for its improvement.
  • Tendência temporal e distribuição espacial do aborto inseguro no Brasil, 1996-2012 Public Health Practice

    Martins-Melo, Francisco Rogerlândio; Lima, Mauricélia da Silveira; Alencar, Carlos Henrique; Ramos Jr, Alberto Novaes; Carvalho, Francisco Herlânio Costa; Machado, Márcia Maria Tavares; Heukelbach, Jorg

    Resumo em Português:

    OBJETIVO Analisar tendências temporais e padrões de distribuição espacial do aborto inseguro no Brasil. MÉTODOS Estudo ecológico realizado com base nos registros das internações hospitalares de mulheres por abortamento no Brasil, no período de 1996-2012, obtidos do Sistema de Informações Hospitalares do Ministério da Saúde. Estimou-se o número de abortos inseguros segundo local de residência, utilizando-se técnicas de estimativas indiretas. Foram calculados os indicadores: razão de aborto inseguro por 100 nascidos vivos e coeficiente de aborto inseguro por 1.000 mulheres em idade fértil. As tendências temporais foram analisadas por regressão polinomial e a distribuição espacial utilizando os municípios brasileiros como unidade de análise. RESULTADOS Foram registradas 4.007.327 internações hospitalares por abortamento no Brasil no período. Estimou-se um total de 16.905.911 abortos inseguros, com média anual de 994.465 abortos (coeficiente médio de aborto inseguro de 17,0 abortos/1.000 mulheres em idade fértil e razão de 33,2 abortos inseguros/100 nascidos vivos). O aborto inseguro apresentou tendência de declínio em nível nacional (R2: 94,0%; p < 0,001), com padrões desiguais entre as regiões. As regiões Nordeste (R2: 93,0%; p < 0,001), Sudeste (R2: 92,0%; p < 0,001) e Centro-Oeste (R2: 64,0%; p < 0,001) apresentaram tendência de declínio, enquanto a região Norte (R2: 39,0%; p = 0,030), tendência de aumento, e a região Sul (R2: 22,0%; p = 0,340), de estabilidade. A análise espacial identificou a presença de clusters de municípios com altos valores de abortos inseguros, localizados especialmente em estados das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. CONCLUSÕES O aborto inseguro se mantém como problema de saúde pública no Brasil, com marcantes diferenças regionais e concentradas nas regiões socioeconomicamente menos favorecidas do País. A qualificação da atenção à saúde da mulher, em especial aos aspectos reprodutivos e de atenção aos processos pré e pós-abortamento, são estratégias necessárias e urgentes.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE To analyze temporal trends and distribution patterns of unsafe abortion in Brazil. METHODS Ecological study based on records of hospital admissions of women due to abortion in Brazil between 1996 and 2012, obtained from the Hospital Information System of the Ministry of Health. We estimated the number of unsafe abortions stratified by place of residence, using indirect estimate techniques. The following indicators were calculated: ratio of unsafe abortions/100 live births and rate of unsafe abortion/1,000 women of childbearing age. We analyzed temporal trends through polynomial regression and spatial distribution using municipalities as the unit of analysis. RESULTS In the study period, a total of 4,007,327 hospital admissions due to abortions were recorded in Brazil. We estimated a total of 16,905,911 unsafe abortions in the country, with an annual mean of 994,465 abortions (mean unsafe abortion rate: 17.0 abortions/1,000 women of childbearing age; ratio of unsafe abortions: 33.2/100 live births). Unsafe abortion presented a declining trend at national level (R2: 94.0%, p < 0.001), with unequal patterns between regions. There was a significant reduction of unsafe abortion in the Northeast (R2: 93.0%, p < 0.001), Southeast (R2: 92.0%, p < 0.001) and Central-West regions (R2: 64.0%, p < 0.001), whereas the North (R2: 39.0%, p = 0.030) presented an increase, and the South (R2: 22.0%, p = 0.340) remained stable. Spatial analysis identified the presence of clusters of municipalities with high values for unsafe abortion, located mainly in states of the North, Northeast and Southeast Regions. CONCLUSIONS Unsafe abortion remains a public health problem in Brazil, with marked regional differences, mainly concentrated in the socioeconomically disadvantaged regions of the country. Qualification of attention to women’s health, especially to reproductive aspects and attention to pre- and post-abortion processes, are necessary and urgent strategies to be implemented in the country.
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revsp@org.usp.br